10 de julho de 2008
As descobertas albicastrenses
A Câmara Municipal de Castelo Branco continua a marcar pontos na gestão da arqueologia nacional. Agora, inventou um novo método de arqueologia urbana. Pensam que é a preventiva? Qual quê. É o método da re-descoberta.
Pega-se em qualquer monumento já mais do que conhecido, estudado e registado, manda-se limpar, convoca-se a prestimosa imprensa local para a notícia. e pronto, já está, trata-se de uma grande descoberta!
Vem na primeira página do “Reconquista”, com o seguinte comentário: «Um troço significativo da muralha da cidade, junto ao Miradouro, acaba de ser descoberto e vai ser preservado».
É uma excelente notícia, esta de que o Sr. Presidente Joaquim Morão, por fim, descobriu a muralha da cidade de que é ilustre responsável máximo vai para mais do que dez anos. Vale mais tarde do que nunca. A sério só agora é que reparou? Afinal aquilo já lá está, há uns quantos séculos ou não?
P. S1 – A reportagem trás mais algumas novidades, nomeadamente quanto à postura do Sr. Presidente em relação ao património arqueológico da cidade. Registámos para memória futura. Há mais umas interessantes informações sobre os resultados das escavações que a empresa NOVA ARQUEOLOGIA está a levar a cabo em dois sítios do Castelo, o que levou o jornalista a afirmar que: «os trabalhos de arqueologia desenvolvidos (…) já demonstraram que aquele local já era ocupado há mais de mil anos.» Pois, pois.
A foto apresenta, em último plano, um troço da muralha na continuação do troço agora descoberto, que é visível do Jardim do Paço. Pois é verdade. Aquele muro velho é o que resta da antiga muralha. Pronto, para a semana já podem fazer mais uma notícia da descoberta da muralha do jardim.
P.S. 2 - O nosso caro conhecido jornalista João Carrega se se der ao trabalho de consultar o nosso jornal Reconquista da década de setenta, nomeadamente os artigos do saudoso Cónego Anacleto Pires Martins, constatará que afinal este esquecido estudioso já tinha “encontrado” a dita muralha. Não tinha era, à data, o apoio dos serviços arqueológicos da Câmara que até já existiam mas eram do sexo masculino e gostavam muito de fazer quadrados acastelados.
P.S. 3 - Estamos a reunir fontes e a consultar os relatórios
Etiquetas: Castelo Branco, Muralhas
Sobre a questão da “(re)descoberta” das Muralhas encontro duas sensibilidades:
1 – A nossa, que defende que a História da Terra deve ser respeitada.
2 – A dos políticos que “defende” a Zona Histórica para ganhar votos e para exibir aos forasteiros que a visitam.
A reportagem, agora trazida a público, representa aquilo que fomos observando durante anos, a necessidade de uma preservação eficaz das muralhas e castelo da cidade!
Lamento que algo tão significativo para o nosso orgulho não tenha merecido um competente estudo que integrasse a zona envolvente em todo o novo contexto que está a ser criado (Largo de São João, Castelo e Miradouro de S. Gens). Pode, no final das obras, resultar algo digno dos nossos técnicos e da nossa História, contudo fica para não esquecermos, que o Património precisa de ser cuidado por quem dele entende e o sabe defender.
Devemos tirar daqui uma lição: A intervenção nos espaços públicos deve contar com a participação alargada dos cidadãos e ser objecto de Plano de Pormenor para a zona em que estes que inserem.
A existência deste elemento é essencial para compreendermos, apreendermos e divulgarmos o nosso património histórico.
Não nos parece aceitável que a prática do facto consumado continue a ser uma solução considerada razoável. A muralha está numa zona classificada e à face da lei, não pode ser alterada nem demolida. Não nos parece correcto manter como bom o argumento de que a vontade de uma entidade pública se possa sobrepor à lei e continuar a satisfazer os interesses dos promotores das obras novas com manifesto prejuízo do Interesse Público.
Temos sido prudentes e dialogantes porque as questões do Património são muito delicadas e devem ser resolvidas por consenso, mas este caso passa os limites. Gostaríamos que fosse encontrada uma solução razoável urgentemente. Pedimos a colaboração de todos os albicastrenses para uma intervenção rápida no sentido de impedir a destruição deste, e de outros elemento do nosso património construído.
Acredito que se formos activos conseguiremos mobilizar as atenções e as vontades de todos.
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