30 de abril de 2007

 

Continuar com a mentira????


Imagem fornecida pela DGEMN, retratando Idanha-a-Velha, numa época em que as escavações na periferia da Sé ainda não tinham começado, como se pode comprovar. Podemos também observar um quadro típico de mulheres a irem e a virem das hortas.
O arco já tinha sido inventado.
Escavações posteriores vieram retirar toda a credibilidade a este monumento.
O que fazer? Deixar estar continuando um engano a pervelecer, ou arrear, retomando a verdade histórica?
Uma mentira dita tanta, tanta vez, acaba por virar verdade. Será este um caso?

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Comments:
O que estás para aí a dizer é uma parvoíce a todo o tamanho. Nunca ouvi nada disso e conheço Idanha-a-Velha há já dezenas de anos
 
Estimado Baptista,
esta não é uma das minhas áreas, mas "lá fora" é normal o processo de reconstituição histórica, enquanto aqui a tribo arquelógico é tão avessa a qq coisa que se assemelhe a levantar uma ruína!
Nunca percebi a razão de ser de tal situação. A própria memória nacionalistica do estado novo não terá criado anticorpos de preconceito na tribo arqueológica?
J.
 
Caro Joaquim:

Esse arco foi reconstruido, ou construido todo com pedras novas?
 
O arco foi construído, com pedras achadas em Idanha-a-Velha. Não se trata de qualquer reconstrução, apenas de uma invenção. Escavações efectuadas há alguns anos verificaram que no local apenas existe troço de muralha. A feitura desta porta prende-se com o velho dogma de que uma cidade romana tinha que ter 4 portas e identificada uma a norte esta seria a do sul, mas tudo isto feito porque sim, nada foi apoiado em requisitos científicos.
 
Joaquim,

Se percorrer o país irá encontrar dezenas de milhares de "efabulações históricas", fruto de toda uma época, conotada com a procura quase febril da fundação da nação. A própria história da arqueologia dir-lhe-à isso mesmo. O problema, quanto a mim, não está na veracidade deste "património inventado", mas sim nas identidades que ele gera. Apresento-lhe um exemplo: em Santiago do Cacém, nas ruinas de Miróbriga existe um templo de Diana no alto do monte, tudo fruto da fértil imaginação de um dos arqueólogos da época . Hoje, sabe-se desta "efabulação", pórém, a própria localidade já assumiu a identidade deste local, por toda a povoação se encontram alusões a este "património inventado", ou seja, pastelarias, lojas, etc., que utilizam como simbolo este templo. Pergunto, a titulo da verdade cientifica, destroi-se o templo e ao mesmo tempo um dos emblemas identitários assumidos pela localidade?

A minha resposta é não, basta contar-se a verdade através da devida contextualização histórica de toda uma época fértil em "patrimónios inventados", e já agora, aproveitar para expôr em jeito de análise as relações identitárias que eles projectam...

um abraço
 
Nunca é tarde para substituir mitos por dados científicos. Já várias vezes falei com alunos do ensino secundário que se referiam ao templo de Évora, como templo romano e não de Diana. Aparentemente em consequência da alteração dos manuais escolares e guias turisticos mais recentes.
 
Concordo com o Eddy Nelson, infelizmente esta abordagem ainda é rara nos monumentos portugueses. Talvez porque as acções da DGMEN eram pouco documentadas e ainda hoje faltarem para alguns monumentos, estudos rigorosos para identificar o que foi destruido, reconstruido, consolidado ou mesmo inventado.
 
Não será também mentira o que aconteceu à Sé de Idanha-a-Velha? Já vi fotos da Sé em que esta se apresentava numa ruina sem telhado com as paredes incompletas. Dever-se-ia manter assim?
 
A questão das reconstruções sempre foi polémica, mas não me oponho a que sejam realizadas desde que utilizem materiais originais, e sempre que forem utilizados materiais novos estes deeverão ser claramente identificados ( por cor ou textura ). No caso da Sé aceito que seja mais fácil conservá-la se for dotada de um telhado, mesmo que não original, mas tal deverá ficar bem explícito.

É um facto que o extremismo religioso dos cristãos levou ao desmantelamento de práticamente todos os templos romanos, ( irónicamente as pontes não o foram, mas apenas porque davam jeito ), existentes na época, mas penso que uma reconstrução real e integral de um desses templos seria uma formidável atracção turística, desde que para isso se utilizem elementos originais, completados por elemento novos mas dos mesmos materiais.
 
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