10 de janeiro de 2007

 

Que tristeza...




Este será, possivelmente, o post que me está a ser mais difícil alinhavar. Mete coisas ao barulho que para mim ainda têm muito valor como a amizade, a solidariedade e, acima de tudo, a ética pessoal e profissional.

Não despojados de alguma razão, infelizmente, estas coisas da Arqueologia são por muitos vistas como um autêntico ninho de lacraus. E não é por se trabalhar com terra . É sim pela pluralidade de personagens que o mundo da ciência arqueológica consegue agregar. Há quem já tenha feito uma análise sociológica do fenómeno, por exemplo o Victor Oliveira Jorge. Mas essa tipologia de arqueólogos portugueses está incompleta. Não contempla um aprofundamento do objecto á escala regional contemplando o estrato mais rasteiro dominado por gente do sub-mundo que só se movem em função da soberba pessoal e dos interesses económicos . Sacaneiam tudo e todos para atingirem os seus fins. São duas as subespécies: Os senhores licenciados convencidos que lá por terem tirado o seu cursito superior são vistos nas terras e nas organizações onde trabalham? (geralmente Câmaras) como grandes sábios da ciência e os ajudantes. Adiante.

Fui surpreendido por uma reportagem que saiu hoje no semanário Gazeta do Interior onde se noticia a descoberta por parte de elementos da Associação de Estudos do Alto Tejo de 70 novos sítios arqueológicos em Monsanto da Beira. Da notícia, que incluiu declarações em discurso directo há alguns pontos que não podemos deixar passar em claro. Ainda que não tenha tido acesso ao documento acho que muitos desses 70 pontos não estão inéditos. Incompreensivelmente, os informantes fizeram tábua rasa do trabalho de outros investigadores: o caso de Félix Alves Pereira (leram?) , de Leite de Vasconcelos (leram?), de Octávio da Veiga Ferreira (leram?) , de Adelaide Salvado (leram?) e de mim próprio. O facto de os arqueossítios não constarem da base de dados do IPA, não quer dizer que estejam inéditos ou por reconhecer. É pois este clima de inverdade e de soberba que a notícia transmite com fotos das falsas descobertas. Aqui chegado, chamo a atenção para um pequeno pormenor: Sou membro da AEAT, sediada em Vila Velha de Ródão, desde que foi criada. Mais a minha Carta Arqueológica da Freguesia de Idanha-a-Velha, vizinha de Monsanto, foi editada por esta associação.

Mas esta tristeza pseudo-científica tem a sua 'estória'. Soube que um dos autores das descobertas, agora também sócio da AEAT, encontrava-se a fazer prospecções e recolhas clandestinas perto da minha área de residência. Era um híbrido entre arqueologia e etnografia. Como não tenho qualquer confiança científica na personagem, não digo que seja má pessoa, mas que é conhecido na região por andar sempre a vender objectos de todo o cariz de duvidosas proveniências (mal de quem lhas compra), comuniquei ao Carlos Banha do IPA o que se estava a passar. A personagem chegou mesmo a ser alvo de uma entrevista saída no ano passado no jornal Reconquista de Castelo Branco onde teve o descaramento de se indignar com a situação de abandono das lagariças monsantinas criticando a Câmara desse pseudo-facto. Mais tarde e como a AEAT vinha ao barulho nessa noíicia, falei com o responsável da AEAT (Francisco Henriques) do facto e dessa descabida e despropositada manipulação vindo de uma pessoa que não possui qualquer credibilidade dentro da arqueologia, da história, da etnografia e de mais uma quantas ciências.Ora, pelo agora lido, as minhas preocupações e avisos cairam em saco roto. E é com lástima que detecto o surgimento da dupla de ‘arqueólogos formada pelo Francisco Henriques, de quem já sou amigo vai para quase trinta anos, e do tal senhor. O F H nunca mais disse nada. Pudera. Afinal já estava tudo orquestrado não foi? ...Até ao dia de hoje. Dirão que a AEAT pediu licença para prospectar a zona, o que lhe foi concedido. Tudo dentro da norma. Foi um dos lados da moeda. Mas o que me magoou, tragicamente, foi tudo o que veio depois. Tudo feito à socapa e a AEAT nunca me ter dito nada. Deveria ter-me comunicado a acção já que a mesma se passava a escassos quilómetros da minha casa. Nada, e para mais sabendo eles que eu tenho vindo a produzir trabalho na zona. Mas não. O F. H. lá saberá o que andou e anda a fazer. Desde logo mandou às urtigas uma amizade que vinha desde 1975. Porquê? Por soberba? Por egoísmo? Por receio de se estar a aproveitar de trabalho alheio? Pelo medo que fosse mais alguém a ficar com os louros das ditas “descobertas”? Ou com receio que mais. Ou terá sido uma questão económica? Eticamente é reprovável! O que ele pensaria se eu fosse fazer trabalhos arqueológicos em Vila Velha sem ao menos lho comunicar? E pertencemos os dois à mesma Associação... Melhor pertencia-mos, pois é minha intenção meter o pedido de demissão o mais rápido possível, desde já esclarecendo os restantes membros desta imoral situação. È claro que os outros poderão continuar a contar com a minha amizade, solidariedade e ajuda no que for necessário. Não esqueço o meu passado de amador e quem me tem ajudado a vários níveis..


PS- Antes que apareça em parangonas de jornal a “descoberta” da vila de S. Lourenço, situada perto de S. Pedro de Vir a Corça, freguesia de Monsanto da Beira , declaro que procedi a trabalhos de natureza arqueológico no local em 1983 e 1984.


Comments:
O não referido é um gajo que anda a vendar colecções etnográficas «recolhidas» por aqui e por ali, a instituições públicas, certo? Já avivou gravuras do tipo pré-histórico em locais do Tejo internacional.
 
Cheira a negócio.Uma nova empresa de arqueologia na forja para operar na área?
 
Vai para mais de um século que se faz investigação arqueológica em Portugal, resultando numa acumulação de trabalhos, colecções e documentação inédita. A necessidade de uniformizar, organizar e tornar disponível estes resultados é um trabalho altamente meritório e necessário. Infelizmente a política actualmente aceite considera que uma ficha de carta arqueológica não necessita de um campo com o nome de quem identificou o local.
Questionando um funcionário do IPA à alguns anos atrás, este justificou o facto dizendo que era inútil e algo narcisista.
Pessoalmente não concordo. Por esta ordem de ideias não valia a pena assinar os artigos científicos sobre os mesmos sítios. O seu a seu dono. Tanto merece destaque quem estuda um arqueo-sítio, como aquele que o identifica e notifica as autoridades. Não se trata apenas satisfação pessoal ou brio profissional. Quem identifica o local pode guardar artefactos. Sem provas da sua relação com o local, será quase impossível conseguir a sua restituição, em caso de falecimento ou má vontade.
Quanto à questão da omissão de bibliografia de referência em trabalhos de levantamento/inventariação seria bom que não conhecesse nenhum caso. Infelizmente conheço e não só no âmbito da arqueologia.
Esta prática é grave pois indicia mau profissionalismo. Podemos assim concluir que o técnico ou não consultou trabalhos pioneiros ou consultou, mas recusou a hipótese de outros os poderem conhecer (má vontade/preguiça?).
Infelizmente ganhar à conta de créditos alheios é um duplo insulto. Primeiro porque ignora o mérito dos investigadores. Segundo porque passa um atestado de ignorância ao leitor, considerando que ele não conhece muitas das obras (ou mesmo passagens completas de texto) onde a informação foi surripiada.
Pelos vistos nem obras antigas de circulação limitada escapam, mas as principais inspirações virão sempre das teses e relatórios policopiados.

Um desejo de um bom 2007. Votos de prosperidade para ti e para o teu blog.
 
R.Gaidão
 
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
 
Já passei pelo mesmo e sei como isto é triste.
No meu caso as minhas informações e descobertas serviram para algumas teses de Mestrado de pessoas ligadas a um certo Instituto existente em uma certa Faculdade no Centro do País.
Na minha opinião o IPA possui uma enorme parte da culpa, pois além de não possuir a base de dados actualizada, os PNTA(s) não contemplam financiamento para Cartas Arqueológicas. E assim se vai delapidando o Património Arqueológico do País.
 
Eu não percebo nada de arqueologia mas no meu tempo os arqueólogos, como cientistas que eram, conheciam a existência de um antigo verbo haver (com h). Até costumavam escrever a terceira pessoa do singular do presente do indicativo com o referido "h" (ex: há algum tempo). Também no meu tempo a 1ª pessoa do plural do presente do indicativo, do pretérito perfeito, do pretérito mais-que-perfeito, ou do presente do conjuntivo se escrevia numa só palavra sem hífen (ex: escrevíamos).
Em que época histórica é que os ilustres arqueólogos frequentadores deste blog viram escrito o seguinte: "à algum tempo", ou "escrevía-mos"?
Quanto à dignidade deontológica estou plenamente de acordo, também ela tem perdido muitos "hh" e ganho muitos "hífens"...
Mas isto aprende-se tudo de pequenino; a escrever, a respeitar os outros e a dar-se ao respeito!... Não vai lá com licenciaturas...
 
Portugal é um local fantástico! Cidadania pouca existe, mas em compensação temos uma série de “anónimos” de mesa de café, sempre muito indignados com tudo, excepto com o que verdadeiramente interessa . Se neste país alguém escrever um artigo revolucionário com o título “A cura comtra o cancro”, muitos destes “anónimos” nem vão ligar ao conteúdo, mas gritarão prontamente: ”Não presta. Contra é escrito com n.”. A rapidez com que foi escrito, uma desatenção na revisão ou um mero erro tipográfico são irrelevantes. O tipo pode ter a “licenciatura” mas não “vai lá”. Também não interessa.
O que importa é saber escrever cartas a bajular o presidente da junta, o pároco, os vereadores, o presidente da câmara e da concelhia do partido, para relembrar antigos favores, ligações familiares e a necessidade de um tacho. Tudo em bom português...claro!

(Joaquim desculpa o desabafo no teu blog mas esta é das poucas coisas que verdadeiramente me irrita)
 
Ricardo, usa e abusa deste espaço. Também estou de acordo contigo e dou-te a minha solidariedade

Abraço

Joaquim Baptista
 
Caro Joaquim,

Assim sendo, só se preenche com factos o que ando a dizer há tempos e que alguns de nós escrevíamos por aí.
Mas desde a história, ida dos anos sessenta (ou setenta?) em faziam corridas pelo Alentejo fora para ver quem chegava primeiro à gruta do Escoural ...
De qualquer modo, gostaria de sublinhar a nojenta ideia de alguém se achar o primeiro achador de algo quando não o é.
Também conheço o FH há muitos anos e esta história faz-me muita impressão ... triste, claro está.
Mas terá sido mesmo assim como dizes?
Não duvidando da tua palavra, esperaríamos que não tivesse sido.
Mas como estamos numa época revanchista em que o egoísmo estúpido prolifera, a arquelogia, ou melhor dizendo, o meio arqueológico não conseguiu proteger-se dessa influência nefasta que o chamado neo-liberalismo sem remorso achou por bem espalhar-se, como uma baba doentia.
Por razões completamente diversas, também passei pela trabalheira de assassinar uma amizade de muitos anos.
um abraço, Bota
 
Uns não sabem escrever, outros não sabem ler! (Ou na rapidez da leitura só lêem o que lhes interessa).
Caro RGaidão (o Joaquim chama-lhe Ricardo) eu não sou anónimo sou o FCosta. Conhece? Então estamos empatados!
Naquele comentário que tanto o abespinhou está escrito: ”Quanto à dignidade deontológica estou plenamente de acordo, também ela tem perdido muitos "hh" e ganho muitos "hífens"...”. Leu? Sabe o que quer isto dizer? Pelo sim pelo não eu traduzo: Quis eu dizer que a dignidade com que muitos profissionais tratam a sua profissão é muito parecida com a forma como se trata a Língua Portuguesa, andam ambas de rastos!...
O meu caro RGaidão com a sua rapidez e poderes extra-sensoriais viu-me logo sentado à mesa do café a “escrever cartas a bajular o presidente da junta, o pároco, os vereadores, o presidente da câmara e da concelhia do partido, para relembrar antigos favores, ligações familiares e a necessidade de um tacho.”.
Primeiro pensei que era arqueólogo, mas afinal é vidente!...
Já agora um reparo; não se diz “A cura contra o cancro”, mas sim “A cura do cancro”, ou “Um remédio para curar o cancro”, “Um remédio para combater o cancro”, ou “Um remédio contra o cancro”.
Assim se escreve em português…

(Joaquim desculpa o desabafo no teu blog, mas esta é uma das muitas coisas que me irritam. Verdadeiramente.)
 
Caro, sensível e bajulador, Costa que coisas é que o irritam?
 
Caro Joaquim:

Embora sem ser na arqueologia, tenho passado por situacoes semelhantes, por isso compreendo-o e estou solidario consigo.

Sabe tambem eu estou a espera, de um dia destes alguem aparecer alguem a reclamar a descoberta de vestigios "cripto-judaicos" no meu concelho, depois de ter sido eu o primeiro que os identifiquei, e sobre eles ter escrito, com uma unica excepcao.
Embora ate nem me importe muito, pois sejam por mim descobertos ou nao, o que interessa e a sua divulgacao, mas podiam esses descobridores de coisas descobertas, mencionar quem primeiro "levantou a lebre". No entanto como vivemos num pais de "chicos-espertos", a etica e a moral sao coisas do passado.

Um abraco fornense de solidariedade.
 
Caro Sr. Anónimo, F. Costa ou Drª. Edite Estrela (seja qual for o seu verdadeiro nome). O meu português não é tão mau que desconheça o erro que menciona. Sei perfeitamente que é correcto escrever “Vacina contra o cancro” e não “Cura contra o cancro”. O objectivo do comentário era exactamente ironizar sobre o facto. Espero que continue a assinar em ocasiões futuras, o tempo do fascismo já terminou e é bom viver a democracia plenamente (ex: dar a "cara", mesmo que eu não o conheça). Em relação à parte da “vidência” não compreendo o melindre, atendendo que não lhe estava dirigida. Como diz o adágio popular: “A carapuça serve a quem a enfiar”.
Costumo consultar regularmente este blog pelos temas interessantes abordados e pelo diálogo construtivo entre os leitores. Como nenhuma das suas observações se enquadra no panorama referido, compreenda porque as irei simplesmente ignorar em ocasiões futuras. Mas se tal o satisfaz, esteja à vontade para utilizar o seu lápis vermelho sempre que desejar. Da minha parte, assunto encerrado.
 
Caro FCosta, este espaço está à sua disposição, assim como de qualquer comentador, desde que não respeite a dignidade das pessoas e os seus comentários possam ser lidos até pelas criancinhas. Como deve saber o pessoal escreve nos blogs e nos comentários dos mesmos de uma forma mais despreocupada e assim é sempre possivel haver algum "tiro na gramática", mas, quanto a mim isso é o de menos. Esteja à vontade.

Al esta história é-me mui dolorosa. Não que eu esteja a reclamar qualquer feudo, mas apenas pedia um pouco de respeito. Bolas somos colegas de Associação há 31 ou 32 anos. Mas tudo passa, com maior ou menor amargura.

Abraço raiano aos comentadores, especialmente aos mais fiéis
 
É óbvio que queria dizer "desde que respeite a dignidade das pessoas e os seus comentários..." e não o contrário como está expresso no comentário anterior
 
Caro Joaquim não pretendi ferir a dignidade de ninguém!... Tão-somente considerei que sendo este um espaço onde se lançam assuntos pretensamente sérios e científicos, seria de bom tom que houvesse um pouco mais de cuidado com a ortografia.
E partindo do princípio que muitos dos frequentadores sejam pessoas ilustradas, mais cuidado ainda deverão ter!...
Se “a minha pátria é a língua portuguesa” (Pessoa / B. Soares), então devemos preservar e respeitar a língua com o mesmo fervor com que devemos respeitar todo o nosso património, seja ele qual for.
Quanto ao rgaidão, fiquemo-nos por aqui…
 
No meu entender, tal acto somente pode ser digno de uma pessoa com um grande mau carácter


Ps. Todo blog tem sempre um anonymous "chatus".

"Herrar é Umano".
 
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