17 de janeiro de 2007
Perspectivismos e “bocas”
Apresentamos outro documento de filiação teórica ‘perspectivista’, neste caso de feição local-regional o estudo “Beira Baixa, Que futuro? - Reflexão estratégica com enfoque territorial e empresarial”. Foi mandado executar, em 2003 (portanto recente) pelo então governador civil e beirão de gema, Dr. Pereira Lopes, algum tempo antes de ter ido para Lisboa a fim de completar o Gabinete do Dr. Durão Barroso, à data ainda Primeiro Ministro de Portugal. É um documento que pela sua génese, contextualização, ideologia, nível de participação ( contámos 68, as instituições que participaram nas reuniões preparatórias) interessantíssimo. A começar pela reabilitação (?) da Beira Baixa, como território de análise, o que por si é revelador de algumas coisa. A este assunto das Beiras(altas, baixas, interiores, etc) e dos Distritos ( sub-regiões, Nuts e afins) voltaremos. Coordenado pelo Dr. Lopes Marcelo que já anda nisto do ‘perspectivar’ a região há alguns anos, na contra capa transcrevem-se declarações de Joaquim Morão, então já presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco, de Carlos S. Martinho Vice-Presidente da Câmara Municipal do Fundão, de Luís veiga, Presidente do Nercab e de João Carvalho, Presidente da AE , para quem: “O diagnóstico foi, bom, mas a receita curta pois é apresentada com efeitos de longo prazo, mas é preciso ter em conta que existem problemas que têm que ser solucionados a curto prazo (...)”. Pois. De entre muitas realidades apontadas , transcrevemos algumas mais relacionadas com o pendor deste blog:
“Testemunhos das actividades de defesa, antigos castros e fortificações estrtégicas da Reconquista, surgem as Fortalezas (...) São também dignas de serem reconhecidas as torres senhoriais como a Torre de Cem Celas em Belmonte, (...). è notável o que reaprendemos com estes estudos! E nós que jurávamos que era romana. Ainda este trecho: “ Da sucinta referência às variadas expressões da vivência do carácter da nossa gente, se podem ler algumas facetas da nossa alma, enquanto Comunidade num espaço territorial comum. Contudo, aquilo que melhor caracteriza a vertente antropológica dos beirões (pág. 234) é a disponibilidade e afabilidade para o convívio, o bom acolhimento e a partilha, que a sabedoria popular sublinha: Nem mesmo à porta do céu / se bate com maior fé / Deus responde : Quem é, entre. / O beirão: -entre quem é». Ora isto, exceptuando a palavra antropológica, é um vergonhoso plágio. Temos presente o original. A ideia transmitida fez parte de um tempo já passado, quando se falava na Província da Beira Baixa durante o Estado Novo, como um reino de almas bondosas...Por respeito às instituições que colaboraram e promoveram este ‘estudo’ ficamos por aqui.
Entretanto o nosso leitor Aquiles Pinto, que como bom conhcedor que é da nossa cultura tradicional já deve ter identificado o plágio, mostrou-se algo indignado com o post dos “Perspectivistas”, sentenciando: “ Não é com "bocas" que se identificam os problemas e se chega a soluções. Nesses dias, muitos técnicos de vários sectores, tiveram a oportunidade de conhecer a região e participar nos debates promovidos pelo Senhor Presidente da República”. Concordamos. Realmente, não é com bocas que lá vamos...Mas, infelizmente, nestes assuntos do desenvolvimento (em que o património está sempre presente) e dos seus problemas e realidades, mais do que soluções o que se tem vindo a institucionalizar têm sido as ‘bocas’. principalmente as de papel. Este blog, não é um local onde se colocam ou mandam umas “bocas”. As matérias que aqui editamos resultam essencialmente da análise de matérias fisícas. Análise que provoca uma salutar interrogação. Nunca gostámos(eu e mais uns Amigos da Ribeira da Bazágueda ao Ponsul, do Zezere ao Erges) da ‘boqueirada’ em assuntos sérios como o são o desenvolvimento futuro da nossa região.” Bocas” foi a desiganção tornada comum por um conjunto de pessoas a partir do PREC, de má memória. Hoje muitos desses “boquistas” ocupam cargos de responsabilidade...O que era necessário era ‘amandar’ umas bocas para o Povo. De uma oralidade pseudo-revolucionária (do MES ao MRPP, passando pela AOC) passou-se à “boca” escrita em toneladas de papel. Eles foram os estudos, os relatórios, as análises ,os projectos, as caracterizações, as metodologias etc, etc. jazem no fundo das Câmaras e das instituições. Tudo, é claro, pago e bem pago.com dinheiro público.
Folgo em saber que esteve por cá aquando do Seminário organizado pelo senhor Presidente da República Dr. Jorge Sampaio, assim como com a vinda até estas terras de “muitos técnicos de vários sectores, que “ tiveram a oportunidade de conhecer a região e participar nos debates promovidos pelo Senhor Presidente da República” Considerando a data, esta oportunidade de conhecer a região aproveitada pelos ditos técnicos deve ter sido algo de estóico. No almoço foram umas boquinhas santas. Não?
Quanto ao desafio do Aquiles. De acordo. Avancemos já: Porque é que a aplicação das políticas nacionais, associadas aos Quadros Comunitários, não tem construído um cenário de verdadeiro progresso e sustentabilidade, principalmente económica e social, para a Região?
cemitérios anunciados
Também concluo, insisto, que não passou da capa e da página 12, relativamente à publicação que divulga. Não foi encomendado nenhum estudo, ao contrário do que fez Pereira Lopes, foram endereçados convites a personalidades, para de forma graciosa e na sua área de especialização, as Ciências Sociais, dinamizarem um Colóquio sobre "Perspectivas de Desenvolvimento do Interior". Foram dinamizadores e apresentadores do tema os professores João Ferreira de Almeida, então Presidente do ISCTE, Rui Canário, professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, tendo ainda apresentado temas dinamizadores as professoras Margarida Chagas Lopes e Maria do Rosário partidário, respectivamente do ISEG e da Faculdade de Economia da Nova e ainda Álvaro Domingues da Faculdade de Letras do Porto. Das intervenções registadas, no decurso do Colóquio foi elaborado o livro que reproduz, editado pela Imprensa Nacional, com uma edição de 1000 Exemplares. Como vê não houve criação de grupos de trabalho, pagos com dinheiros comunitários, nem os investigadores foram remunerados pela edição, como autores. Aliás, foi dessa forma que sempre actuou o Presidente Sampaio. Definido o tema das Presidências abertas, eram convidados especialistas das diferentes áreas, que graciosamente se envolviam nessas iniciativas. Em resultado de colóquios, seminários, ou situações similiares eram editadas publicações, sempre que a qualidade das intervenções o justificasse. Esclarecido.....
Tenho muito estima e consideração por Lopes Marcelo, que conheço melhor do que imagina, mas não compare o trabalho de um técnico bancário do IFADAP, com anos de investigação e de trabalho científico publicado pelos oradores que referi.
10:04 PM
<< Home